Quarteto urbano (III)




catador de papelão
não te sei outra coisa
catas somente
o que outros
largaram mão
deixaram à revelia
e sem regalia
escolhes
escondes
um pouco do teu nome
vais deixando
pelo chão

Quarteto urbano (II)




pauliceia esta
que fiz
desvairada
saiu a reboque
de coisas passadas
e isso de viver
jornadas errantes
me mostra o
quão gigante
pode ser aquele
instante perene
anúncio solene
do que arde
por ser

Quarteto urbano (I)



são paulo
tua cor cinza
em várias nuances
no horizonte
contorce a vista
infinito te miro
ao longe fugaz
e quando teu frio
me abraça
o peito
aqueço o leito
que apenas de um cinza
opaco
jaz(z)

balada de amor e ódio




balada de amor e ódio
tão igual
mas tão sem
propósito
ficar sem meu ócio
habitual
e fazer desse dia
mais um
no meu inferno astral

pergunta




e a fortuna
do devir?
passo calada
e xingo essa alma
espelhada
que não se importa
em / me
ver partir

de vidro



não quebro teu silêncio
de vidro
mas talho
a consciência
com meu sangue
pulsando
quente
silente
sorrateiro
no teu mangue



noite



dois estranhos numa noite escura
e fria
-só não sabia se o frio
vinha de fora
ou era de dentro mesmo

ironia


se eu quisesse o sangue
derramava uma taça
sobre cada viela escura
desta vida
se eu quisesse o sangue
embebia os lábios
na verve límpida
na veia pálida
na esquina dessa
alegria
infame