desde que conheci este
lado da moeda
fiquei com o mundo insone
os olhos inertes
calei a boca faminta
falei para quem ia atrás:
não me siga
o céu se mostra azul
e tampouco sabemos sua cor
já me cansa olhar
perdi as caras
e as contas
me quedaram certezas
inúteis
frágeis
e o espelho quebrado
em mil pedaços

tá aqui


tá aqui
teu cheiro
não vejo, sinto
o gosto dessa
boca na minha
assanha o
vício, absinto
tá na pele
a cor
contraste, tinto
e branco
minha e tua tez
quem fez o desejo?
a quem entregou?
tá comigo
como um ímã
me chama
me arde

Takumã

Barco


Abra os olhos
enxerga os velos do barco
à deriva de um espaço
qualquer.
Solta as amarras
presas ao porto
cais
se joga no imenso des-
conhecido
águas que correm
(o que é seguro não interessa).
Abra os olhos sobre o novo
espera pelo eterno chegar
constante desejo do devir
do devo ir.
Partir.

Tela



não fuja de mim
eu sou aquela
cuja imagem
cerraste numa tela
de doçura
e perder tal
candura
me faz gozar
ainda mais

tortura.

somente



todo amor é somente
a fagulha que a saudade
atiça e queima
em cada tempestade
de areia
a chama bruxuleante
no corpo o calor
escorrendo na teia
se tua dor é semente
aquilo que brota
no meio da gente
explode centelha
a cada vez que tua mão
sobre a minha
se derrama e
espalha a saudade que arde
todo amor faz alarde
ainda que urja
minha sanidade

madrugada


piso no zinco
a pele queima
passos dados com afinco
o pensamento
em desatino passeia
passa pulando
por outras telhas
gata que ladra
o coração vira lata
na madrugada
emparelha