como fio que desenrola do novelo
perdi as contas
de quantas vezes
embaracei meus dedos
nos teus pelos

hoje errante
descrente
ignoro as súplicas
sussurradas no teu nome
ou em nome de qualquer deus
sigo ligado a ti
sigo até

teu


muro


perdi o fôlego
a voz e a vez
tateei no escuro
sem conseguir enxergar
me entreguei a uma languidez
apenas externa
mas não valeu a pena

a exata ternura que procuro
caminha sobre os cacos
do muro
descalça

pele


a pele calejada
filtro perene de emoções
a vista turva
a lágrima barata
vadia
escorrendo aos turbilhões

um não saber
o meio termo
um passo em falso
mãos tateando
a esmo

olhos como barcos
à deriva
no espelho preso
sono
ópio para a dor
reflexo da imagem
cativa