Não soube ler teus olhos
Nem a voracidade do teu desapego
Não soube entender teu desatino
Nem tua fome repentina pelo ermo

Não soube conter tua fuga
Nem medir o espaço da despedida
Não soube o tempo exato
Que te fez decidir pela partida

Não soube de tuas chegadas
Nem soube das vezes que disse:
Eu vou - e nunca ia
Não soube ouvir teu silêncio
Quando urgia

E mesmo quando os espaços
Entre os vãos aumentavam
E os retalhos rotos dos nossos corpos anunciavam: fim

Ainda havia algo de destino
Vagando feito verso errante
Como que acordando de
Um sono diletante

Ainda soube dizer a vontade
Que me cabia
Soube ser, querer e estar
Soube ser inteira para completar
Soube ser areia
Para tudo que era mar







*Imagem de Daria Hlatzova.