algoz


tua noite cerrou meus olhos
e mãos silenciosas cobriram meus cabelos

o cheiro que sempre conheci
me sorriu
e pude ver teu pensamento
vagando
ao lado das minhas incertezas

lembranças reais ou não vividas
chegaram com a luz do dia
mas a claridade que vinha era
de dentro:
ouro sobre azul

de resto o que fica é memória
(intangível algoz de noites insones)
que tenta decifrar tua história
em mim
ou algo que ficou de olhar
de cheiro
da tua pele

marfim





















Hoje eu sou aquela música triste
Triste
Hoje eu sou apenas um corpo cansado e triste
Hoje meus olhos não querem abrir
Meus braços se fecham ao redor do meu corpo
Hoje sou só dor, a minha e a do mundo
O silêncio pulsa
Minha vida é muito pequena
O fim é grande:
e eu ainda vou ter que existir.


*Imagem: Dalí - Alice

indolente


sinto seu cheiro
escapando pela porta entreaberta
sinto tantos caminhos
tantos sentimentos
meu peito e esta cama
deserta

pressinto passos disfarçados
quebrando galhos
amassando folhas secas
na calçada
pressinto
o espasmo de dois corpos
desunos pelo amor
- este indolente

o que era teu:
tão somente eu
de ti
ausente



*imagem de Benjamin Lacombe.