mentira


porque todas as mentiras
que decerto
afligem um ser incauto
quaisquer armadilhas
sobre a terra nua
fingindo a natural frieza do que é lógico
decerto todas as mentiras contadas
ao pé da letra
ao pé do ouvido
ao pé da mesa
só foram mentiras
porque não se cumpriram



te quero insana
os pelos nus sobre a cama
te quero sem sentido
sem verso e sem verbo
olhar desconexo
palavra rota ao vento
quero teu tormento
a qualquer custo
quero tua audácia
tua imprudência desmedida
quero tua chegada
e o anseio da partida
quero tua febre
teu riso solto e teu gozar ardente
te quero meio bicho e meio gente
e no avesso do mundo
fundir cada suspiro
no teu absurdo



minha vingança te tornará primitivo
vai te tirar do eixo
e botar no prumo
vou te deixar perdido
vagando
cego sem desapego
urgindo nossos segredos
instinto por um triz
sem acordos vis
tácitos ou noturnos
pra que no fim
ou no começo do enfim
tu ache
na linha do meu dorso
teu rumo

rede



a rede range
sem teu cio
a rede é só vazio
insônia espreita
mente suspeita
a rede se abre
noite quente
clareira na floresta
lua cheia e festa
a rede tange
teu tato tua ânsia
é ela quem aproxima
pólos tão opostos
a rede sabe
de nós dois


esse canto escorre lento morno
no ermo há um leito
no vazio há um quê de nada
ou de cada um que deitou aqui
esse canto vibra salva
soa como um salmo
vacilante
o peito palpita
me abrace.