Pra alegrar teu coração
Fiz um guizado
Com bastante tempero
Batata, cenoura e do verde
O cheiro

Cheio de carinho
Me trouxeste ao teu ninho
Para um tambaqui
Assado sem pressa

E eu: a presa
Entre pimentas e tesão
Amor ao pé do fogão

absurdo


absurdo é se conter
nessa subida sem fim
é contar migalhas e dar de um por um
amor tão bonito assim
mas nessa subida toda
o que eu quero é lá em cima ver
uma rede atada
esperando nossa chegada
- vem, meu bem, ficar junto de mim

bodas de palavra


Há que se ter números
Para contar
Três vezes sempre
O resultado é
O tempo de quem sente
Tem gente que
Conta algodão
Papel, linho
E as pedras do caminho
Tem gente que
Conta metal
Prata, diamante
Mas tem gente
Que é só amante
E conta
Palavras

araçá


agosto é a época do araçá
é a época da chuva
da praia escondida pelo rio
mas em julho
meu amor encontrou teu cio

e a nossa vontade
que vinha de tempos
se arrumou em um momento
e nem chuva nem vento
nem sol nem claridade
de novembro

qualquer banalidade
ou a provável saudade
que iriamos sentir
não ousou diminuir
a ternura o chamego
o amor o sossego
que o colo um do outro traz

daí então daremos conta
que não depende de tempo ou rota
aquela vontade sempre vai bater
na minha ou na tua porta
cheirando araçá
trazendo pro meu canto o norte
e levando norte
pra todos os cantos
de lá

espasmo

Ela experimentou
E gozou em bocas mais ácidas
Do que jamais conheceu
Mesmo com o rubro sobre a face
E sobre os lábios
Lividamente
Durante o espasmo
estremeceu
Não contou e nem pode conter
Outras bocas, mais torpes e
menos confusas
Sobre o que nem era seu

o que se arrasta do limbo
embola e engana
confunde seda e linho
corrói a chaga
contorce as entranhas

o que vem do nada
é chaga
tumor que ora chega e mata

o que vem do nada
volta
pro nada de onde partiu
a ferida, veia seca antes rubra
agora anil