déjà vu



baixo botafogo
quando percebo
esse lugar
cada centímetro vasculhado
pela minha
lembrança
me dou conta
que a rua não me
pertence
e nem a ti
quando percebo que
cada marca
foi apenas o
instante
e não durou após
a chuva

vermelho



e quando estiver pronta
apago teu nome do espelho
cubro meus lábios
de vermelho
e saio para me
encontrar
de novo
no meio dessas ruas
no meio da noite
tua

Desdita


Destilo minha acidez
Irascível
Cometo as maiores
Atrocidades
Em partes
À parte de tudo
Me calo
Consinto tua aridez
e reprovo todos
os dados que me levem
a hipóteses
malditas
desditas
desando por
sobre minha certeza
sobre células
telepáticas
caóticas
confusas
minha cabeça
e a da medusa
se entendem
nessa ânsia de
sonhar
o sempre
o novo
sempre

Fuga




quando escrevo
saro
quando calo
desconverso
quando me consinto
respiro
quando contrasenso
desabo
quando resvalo
confesso
quando bebo
(re)tinto
quando distraio
sou pego
quando desisto
me cego
quando atraio
me sinto
algo cativo
-não quero

piano




às vezes dói
sentir toda essa música
presa no peito
às vezes dói
perceber que os dedos
não acompanham
a melodia da
minha cabeça
então escrevo
faço música
com os olhos
dedilhando fantasias
com a mão
inerte
sobre o piano
e
mesmo assim
muitas vezes
dói
silêncio.

retalho



se rememoro
o que desejo
encho minha existência
de retalhos
minha história
remete ao cotejo
do que sou
e do que almejo
se prossigo
ou estanco
errante
a certeza é
nunca pego um
atalho