protesto



no meio de tantos protestos
o coração
o peito nu
o corpo nu

no meio de tantos protestos
o corpo pede por uma rendição
o corpo pede pra perder a luta
que emana da vontade de outro corpo
o corpo quer perder a guerra
quer paz
e quer ter razão

o corpo não quer ser feliz com a mentira
doce sussurro no pé do ouvido
condição da batalha
já quase vencida

o corpo só quer
gozar de pé no quarto na cama
rés do chão

o corpo que lançou um grito no meio da passeata
galgou o espaço
se fez cansaço
se transformou em suspiro
ansiou o gemido
no meio da noite

o corpo acolheu no peito a cabeça amada
fez do cobertor sua bandeira
e fez amor.



a noite me pesa sobre os olhos
a noite se encerra sobre meu coração
a noite não silencia o sibilar
da serpente traiçoeira
a noite traz o veneno
a noite aguça meus sentidos vitais
quando eles deveriam dormir
a noite me constrange
e me empurra para o canto da parede
a noite faz raiar meus medos

a noite sou eu

a água do rio me tornou doce
firme nas ideias
pés – raízes plantadas no chão

a água me empurra e me dissolve
assim como a água
sou toda líquida
e trago em mim cardumes
de pensamentos inacessíveis

mas um terço do que sou
tem o sabor do sal
e as profundezas
do que não vejo
nem compreendo
pertencem a uma parte de mim
assim
abissal