Escutar essa voz
Transforma em pecado
Todo o receio
E quando ouço
Arder
Mendigando calor
Calo o vício opaco
No contorno
Si
Lente
Lentamente
Rasgando toda dúvida
In (or out) Certeza?
O tempo dirá

Armadilha



Escrevo com fogo
Na folha vazia
Tua armadilha
Pra minha arte
Sou parte dos olhos
E parte de tudo que sinto
Que sou

Escrevo com fogo
Na tua retina
Que tinta azul
No fundo olhar
Saliva e sangue
Ocaso no abraço
Mergulho no mar

Escrevo com fogo
Assino as unhas
Nas tuas costelas
Abro uma fresta
Ardo sem pressa
Meu calor consome
Fogueiras espumas

Escrevo com fogo
Sina noturna
durmo nas dunas
Na água no sal
Atiço o caos
Enxergo a febre
Que abre uma chaga
E fecha este soul

poesia brusca



e então
num passe de mágica
as palavras se fizeram
espelho da minha vida
refletindo no instante
a exatidão de todos os sentidos
e o resto das fagulhas
que crepitam nos meus olhos
atearam fogo no cosmos
incendiando a languidez do mundo
simples e rapidamente
como esta poesia brusca
feita de fogo e silêncio




por essas ruas e estradas
vejo a sina que me cabe
sinto a gana
faço lama na rua
na tua
viro a cama
e tiro a fera
quimera de mim
quem sabe um dia
viro gueixa pra te
envolver
que nem serpente
e acorrente nos trilhos
destes livros insanos
poetas e oceanos

por estes becos sem saída
sou ferida na tua mordida
e sinto a carne no cerne
no gozo
alvoroço de duas batidas
no ritmo leve
que leve
que desce
que sobe
que morre na encosta
e encosta tua boca
em mim


Se os olhos não dizem
O corpo deduz
E no silencio austero
Entendo meias verdades
Das metades que somos nós

Se os olhos não calam
O gesto traduz
As mãos contornam
Esse enleio contra o tempo
Algoz

presságio



talvez aconteça
de encontrar você
as linhas da minha mão dizem
e me guiam
para tua arte
teus olhos me consolam
e fazem ver
outros e novos dias

quase-poema



que adianta
minha placidez
contra a ira das palavras?
estou inerte
neste fogo
que nunca apaga
enquanto houver sons
que possam vencer a
resistência do medo
e brincar com
a falta de nexo do nada
terei a vida a meu favor
este amontoado de
histórias oblíquas
que ultrapassam
a razão e as fronteiras
do puro
pureza...existe?
só na mente dos
comedidos
essa raça em extinção
que meus gritos
chacoalham e perturbam
tornando-os irracionais
feito lobos famintos
feito nós


sou mais mulher
que meus olhos permitem
esconder
tento parecer frágil
mas é na penumbra
do quarto
quando dispo
os mistérios que me cubro
e encho de silêncios a minha alma
que grito a força
estancada no peito
e me faço forte
me faço vil
apegada às minhas vontades
fiel aos meus versos

conto as horas
e lembro que o sol traz consigo
minhas incertezas
fujo de mim para nascer de novo:
domável
de olhos semi-cerrados
certa de te ganhar
ou perder

pensativa



Tem alguém com muita raiva de mim aqui
E esse alguém sou eu
Por mais que vislumbre uma nova paisagem
Tudo por dentro está queimado
E oco
Falta alguma solidez em mim
Algo que dure (pelo menos)
Até a próxima chuva
Falta coerência nas minhas palavras
Falta sensatez nos meus atos
Este mesmo nexo que tanto esmurrei e
Agora quero abraçar
Liricamente meu

Espelho



essa coisa linda e tola
constrange meus olhos
adentra minha vida
sem permissão
invade minhas certezas
lapida minhas asperezas
e transforma cada minuto
cada vez
em mais uma


minha casa não tem porta
é uma infinita selva crua
paredes por todo lado me cercam
lembrando a cada instante
viver não tem cura
viver é coser eternamente
uma colcha de retalhos
de fados e fatos enternecidos
úmidos e salgados
emendados com a doce mentira do gozo
de quem nasce, ama e morre
chorando o peito desnudo