não sei fazer poesia social
não sei transformar o coletivo
na dor por mim
sentida
não sei
falar coisas que agradam
minha palavra sai
feito um cuspe um escarro
não sei ter empatia
não sei
se desaprendi ou nunca soube
mas sei
que antes do que sou hoje
um eu
já houve


*desenho de Mark Ryden




este objeto
que antes era extensão de minhas
mãos
agora parece do corpo um pedaço
amputado

estas palavras
que antes fugiam tão fáceis
agora me soam assim
ventríloqua

estas folhas em branco
que antes bordava ponto a
ponto
com palavras-nós
agora rotas restam e se desfazem

em pó

*desenho de Mark Ryden