Paisagem



É nessa imensa liberdade que me aferro aos teus desígnios, e me faço (ao mesmo tempo) minha, por não dissociar meu eu da realidade, e tua, porque esta mesma realidade materializa-se no que penso de ti. Pois quando olho para o lado de dentro vejo apenas este quarto vazio. E quando olho ao longe vejo onde teus olhos também pousaram, e me sinto tua. Me faço tua. Por passar sorrateiramente a pensar no que podes pensar e no que veio a pensar outrora. Meus monólogos contigo são dois dedos e duas linhas de prosa que alimentam todas as vãs contagens do tempo. Sorvendo este café que me lembra o amargo da tua ausência: a ambos faço questão de beber sofregamente, quentes, alimentando as janelas abertas da minha alma, sedentas de paisagens, feito esta que olho ao longe. Se passasses pela minha janela eu veria o dia e não mais a ausência –um ocaso. Então não me faria escrava, mas a serva cheia de pudor que se transmuta Sherazade para contar histórias ao ouvido do seu senhor. E me faria senhora de todas as coisas, senhora da tua presença antes imaginada, senhora de uma nova realidade ao alcance da minha voz.

Um comentário:

  1. Não sabendo o que vejo, desejo.
    Não sabendo o que sinto, minto -
    para mim mesmo, meio a esmo, meio desleixado...
    mas lembrando que viver é "o achado".
    Quatro paredes aos meus lados...
    Carregando esses banzos e fados, sem nenhuma queixa....
    sem nehuma gueixa.
    Viver é tal simples que me deixa chateado.

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