vou calar
para não dizer o impreciso
para não mentir o que preciso
vou deixar que os olhos digam
que os pés sigam teu rastro
na ponta no lápis
na noite escura
e o som da viola sem cura
a dor que se aproxima
só cabe em rimas
ou outra maneira
de falsear a verdade
ainda que tarde a razão
no lugar do sim
eu digo não, minto
escrevo o que cabe no agora
no momento, na chuva
não cabe tormento
não cabem folhas despedaçadas
pelo vento, nem lá fora
nem aqui dentro
por ora
quem sabe até novembro
e se depois
nem me lembro
quem sabe quanto
tempo, tanto tempo
quem sabe a hora
que o medo cresce
ninguém sabe
nem quer ver
o lado certo da mentira
a calça puída do avesso
o pretérito mais que perfeito
ninguém sabe direito
ninguém sabe torto
quando o espelho mostra o ogro
mostra a dor que cura
o receio de partir sem voltar
sem pudor de sentir
sem vergonha de chorar
quem sabe?
minto quem sou quem fui
conto falsos segredos
dedilho inverdades
e teço o enredo
do meu jeito
finjo onde estou onde fui
me faço vontade onde
a verdade rui
desfaço o dedo do gatilho
aponto o riso sem graça
sinto o que sou sem orgulho
deixo a fagulha
espalhar sobre palha
grão de areia
perdida na praia
escrevo sobre pedras
desatino sobre o chão
escalo paredes
dinamito a coerência
me faço ausência onde
sobra exagero
não nego
malícia ou despudor
não meço
esforço de ser
torço o nariz
sem esperar pelo instante
sinto tudo
cada segundo
por um triz
cama
não quero mais a cama
só a cama
quero todo o resto
que não tenho
e penso que podes dar
seja aqui
ou em qualquer lugar
não quero mais a cama
e seu falso conforto
quero chão tapete
corredor e liberdade
de decifrar teu enigma
todos os dias
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