as vezes escuto coisas
que não quero ouvir
vejo coisas
que não quero ver
sinto coisas
que não quero sentir
e me revolto contra a minha natureza
mando a paz e a civilidade
pra fora de casa
as vezes só quero esta
pequenina fagulha de revolta
aqui dentro
as vezes só quero não me ser
e chorar lágrimas incontidas
debaixo do chuveiro
as vezes não quero o termo
só o meio
as vezes consigo pisar no chão
outras vezes meus pensamentos
ficam na ponta dos pés
e me deixam de ponta cabeça
as vezes só quero o “as vezes”
outras vezes o sempre me rodeia
desejo que fique
ele nunca se demora
e digo: fique
mas ele anseia outras paragens
outros dias luas
outras paisagens

3 comentários:

  1. Talvez esse tenha sido um dos poemas mais meus de todos os poemas teus. Às vezes eu sou assim, um verso de cada poema alheio, sem nunca encontrar minha composição.

    Um beijo.

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  2. Que comentário belo, Jaya! Isso é mergulhar verdadeiramente em um poema! Realmente a literatura nos dissolve. Quando lemos um texto literário, como este da Bella, por exemplo, parece que é impossível não encontrarmos pedaços de nós nesse texto. A obra literária é assim mesmo, é feita de pedaços, de vários pedaços dos homens em sua existência. Ler uma obra literária é se encontrar, ainda que em pedaços, em pedaços porque somos assim, fragmentados pelos eventos e intensidade da vida. Por isso a obra uma vez publicada não é mais só do seu autor, é também dos seus leitores que se completam com ela e que a completam também.
    Quanto a vc Bella, sem comentários!

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    1. Caros, o carinho de vocês não tem limite. esse espaço de troca é fundamental. é tão bom ver que o que eu escrevo pertence a outras pessoas...obrigada! bjs

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