de repente
minhas palavras te cansaram
aquela lenta tortura chinesa
me vertia prazer
pela retina

de repente
percebi o desprazer
que te movia
inadvertidamente para longe

de repente
me vi voltando os passos dados
recolhendo cacos
rasgando papeis
sorvendo bebidas imaginarias
em garrafas vazias

de repente vi que
não era eu ou você
o que se perdia na madrugada
percebi que minha presença
fazia parte da tua jornada

percebi minha sina e tua sorte
o tempo que toma conta
do início da vida até a morte
percebi meu devaneio
e teu pranto

encostei meus lábios no seu ouvido
sim, eu canto

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