novamente
hoje um fantasma bateu
na minha porta
contando algumas juras
e outras respostas
me falando de amores vividos
e pedaços de sonhos
partidos sem dó nem piedade
hoje abri a porta novamente
para o abraço do dia certo
e segredos sussurrados
ao pé do ouvido
o olhar de soslaio
e um convite pré-combinado
hoje abri a porta e me vi
de repente
envolvida em braços decadentes
nem amar nem mais mar
não sinto mais nada por você
nem quero
me deixe sair
quero ver o luar
prosa
menino prosa
que bossa comigo
e proseia também
passeia na beira
de tantos momentos
sem nunca se entregar
concordando em tudo
com um ‘amém’
qualquer
me diz
bem ou mal
me quer?
insegura
no fim do dia
quando a lucidez assomar aos
detalhes da despedida
lentamente a sobriedade vai
tomar conta e me dizer:
não é você
cada rima cisma em quedar-se
insegura
meu querer não tem
cura
seja insanidade o que
no meu coração causa alarde
digo repito o que sinto
a pele rota o batom vermelho
na frente do espelho
véspera
algumas tristezas não devem ser divididas
a flor deve:
suas pétalas devem ser rasgadas
e entregues ao vento em oferenda
sua raiz deve se espalhar pela terra
seu único alimento deve ser a chuva
a flor que espera do lado de fora
guarda no ventre histórias
aguarda que o vento a leve
do lado mais distante do hemisfério
a flor aguarda ainda
no fundo do pote de barro em que reside
mistério e vontade
a vontade de dizer: amar
a flor admite não poder seguir só
a flor se põe no lugar da tristeza
sobre a mesa
acostumada que estava
à sua presença invisível
senti parte de mim esmaecer
escorrendo líquida na parede
recém pintada
borrão
inundando meu corpo
transformando em rio
sem conseguir resolver
o misterioso caso da rima
sem solução
a palavra fica solta
como metades
que não se encontram
esperando um par
como olhos marejados
que só sabem inundar
acostumada que estava
com as verdades
inventadas à meia noite
dormia dias a fio
esperando encontrar
a ponta da rima perdida
no meu não saber amar
algumas coisas não devem ser ditas
nem pensadas na calada
da noite
a voz rouca emudecida
algumas coisas não devem ser ditas
mesmo com a mordaça caída
mãos imóveis sobre a mesa
a vontade contida mal-disfarçada
mesmo a voz rouca
decide não haver mais febre
não quer enxergar no breu
com olhos que não os seus
mesmo o querer ausente
e a vontade
antes rente ao corpo
mirando outro porto
decide plantar um caminho
nas águas: cais
náufrago a esmo
vento vil açoitando a pele
o querer banido no olhar mordaz
feito de barro
o homem é feito de barro
e hábito
o homem acostuma
falar sentir fazer olhar
e diz que ama
a necessidade preenche
o vazio do querer do homem
a costela de cerâmica
está oca mas não cabe
(ele não sabe)
o seu sentimento
o hábito faz o homem
homem que escreve
homem que lê
o homem de barro desmancha
na água
(ele não sabe)
do meu sentimento
consolo
vivo sozinho
rodeado de costumes
respirando o insumo
do que me foi projetado
as vezes sinto mais ou menos
dores
mas calo o cristal
sobre o vidro amordaçado
segue repleta minha vida
de saberes e
dissabores
procurando no fundo
da alma consolo inusitado
até que a fortuna
a nau do que desejo
me navegue por mares
à procura do lampejo
que anda disfarçado
olhos
grandes olhos que me perseguem
por que iluminam minha noite assim
despertam meus sentidos
pintam de púrpura a noite escura
enxergando o mundo
tom carmim
olhos que convencem
para o caos de uma vida arrebatada
destilam angústia e desistência
olhos que me despertam
de uma alegria falível a certeza
sei que zombam de mim
dia dia noite e dia
sei que dentro da concha
a pérola reside na areia
-no momento do gozo eterno
não são os grandes olhos
mas a distância
que espreita
o fogo passou por aqui
devorando grilhões e correntes
agitou a fera
acordou a serpente
queimou as certezas
e o vício da bonança
arrastado pelo vento
surpreendeu o indômito
lavrado resistente
o fogo atingiu em cheio
as certezas plantadas
em lua crescente
seguiu no rastro
do olhar conciso
do ouvido que anseia
a palavra reprimida
o fogo finalmente cedeu
virou candeia indecisa
sem saber ao certo
se a água do rio à espreita
o apaga ou abriga
devorando grilhões e correntes
agitou a fera
acordou a serpente
queimou as certezas
e o vício da bonança
arrastado pelo vento
surpreendeu o indômito
lavrado resistente
o fogo atingiu em cheio
as certezas plantadas
em lua crescente
seguiu no rastro
do olhar conciso
do ouvido que anseia
a palavra reprimida
o fogo finalmente cedeu
virou candeia indecisa
sem saber ao certo
se a água do rio à espreita
o apaga ou abriga
tua conversa instiga meu verso
ligeiro
e quando a palavra sai
procuro atrair teu olhar
decerto um tanto fugaz
com uma certa rima
tua pirraça instiga meu verso
sorrateiro
na cadência da voz
que desafina
minha audácia junta palavras
refaz dos cacos a história
desmente o rubor na face traída
inventa alegrias alcoólicas
desmedidas
brinca de bandido detetive assassino sanguinário
até o horário que o sono assola
então brinda à consciência
e à memória
o disfarce blasè da imagem
distorcida
ligeiro
e quando a palavra sai
procuro atrair teu olhar
decerto um tanto fugaz
com uma certa rima
tua pirraça instiga meu verso
sorrateiro
na cadência da voz
que desafina
minha audácia junta palavras
refaz dos cacos a história
desmente o rubor na face traída
inventa alegrias alcoólicas
desmedidas
brinca de bandido detetive assassino sanguinário
até o horário que o sono assola
então brinda à consciência
e à memória
o disfarce blasè da imagem
distorcida
ferida
cada barulho anunciava o fim
iminente
e mesmo os silêncios
que se faziam absurdos
explodiam em rojões
do lado de dentro
cada cano quebrado
cada queda
amortecia a altura
de se sentir deitado
e mesmo a chuva
não escondia o sal
açoitando líquido
a face
por trás do tumor
nem sorte nem morte
a rudeza do espinho
sobre o infinito chão
a dor a chaga o ácido
um corpo vagando
cego
pelo caminho
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